O Comitê
O CODACE é um comitê independente criado em 2004 com a finalidade de
determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos
brasileiros, estabelecida pela alternância entre datas de picos e
vales no nível da atividade econômica. A datação de ciclos vem sendo
realizada pelo Comitê com base em estatísticas econômicas expressas em
nível, ou seja, cada ponto de virada (pico) do ciclo equivale ao
final de um período de expansão, que será seguido, no trimestre
seguinte, pelo início de uma recessão; cada ponto de virada (vale)
equivale ao trimestre final de uma recessão, a ser seguido, no
trimestre seguinte, pelo início de uma expansão econômica. O ciclo
econômico expresso em nível é também conhecido como ciclo de
negócios.
O comitê é formado atualmente por seis membros com notório conhecimento
em ciclos econômicos:
- Affonso Celso Pastore
(Coordenador, Diretor da AC Pastore & Associados)
- Edmar Bacha (Diretor, Iepe - Casa das Garças)
- Fernando Veloso (Professor, FGV EPGE e FGV IBRE)
- João Victor Issler (Professor, FGV EPGE)
- Marcelle Chauvet (Professora, Universidade da Califórnia)
- Marco Bonomo (Professor, Insper)
- Paulo Picchetti (Professor, FGV EESP e FGV IBRE)
- Vagner Ardeo (Vice Diretor do FGV/IBRE, Membro-Secretário)
Relógio do Ciclo
O Relógio de Ciclo de Econômico foi elaborado para melhor apresentação dos
ciclos de negócio, flutuações da atividade econômica em torno de seu nível
de potencial a longo prazo e como alguns indicadores econômicos principais
interagem com o ciclo de negócios. Uma ferramenta dinâmica que nos permite
perceber o comportamento principal, coincidente, antecedente ou posterior
dos indicadores apresentados.
No quadro acima, as séries dos Indicadores da FGV IBRE que ajudam a mapear
os principais setores da economia. Estão presentes no gráfico: Índice de
Confiança Empresarial (ICE), Índice de Confiança da Indústria (ICI), Índice
de Confiança de Serviços (ICS), Índice de Confiança do Comércio (ICOM),
Índice de Confiança da Construção (ICST), Indicador Coincidente Composto da
Economia (ICCE) e Indicador Antecedente Composto da Economia (IACE). Todas
as séries foram filtradas para a extração da tendência ciclo, transformando
assim, em séries mais bem comportadas.
O desenvolvimento cíclico das séries é apresentado em quatro fases. A base
do relógio é um diagrama que tem como eixo horizontal mostrando o nível da
série ciclo de cada série e o eixo vertical mostrando a evolução mensal da
série ciclo. Cada um dos quadrantes tem um significado.
-
Quadrante 1: Série acima do nível médio da série ciclo e com evolução
favorável na margem;
-
Quadrante 2: Série continua acima do nível médio da série ciclo, mas
depois de ter atingido um pico agora está se movendo gradualmente para
baixo, apresentando variações negativas na margem;
-
Quadrante 3: Série abaixo do nível médio da série ciclo e quedas
consecutivas na margem caminhando para um vale;
-
Quadrante 4: Série gradualmente começa a subir, saindo desse vale com
números positivos na margem, mas ainda se encontra abaixo do nível médio
da série ciclo.
Cada uma dessas fases descritas está na figura acima de modo correspondente
de acordo com a numeração dos quadrantes. De maneira geral, ao longo do
tempo, os indicadores movem-se no senti anti-horário, de uma fase para
outra. Não existe regra geral e definida sobre quanto tempo pode durar um
ciclo completo.
Descomplicando o Ciclo Econômico
Os ciclos econômicos são flutuações no nível de atividade inerentes ao
funcionamento das economias de mercado. As motivações para sua ocorrência
são motivo de amplo debate entre diferentes correntes de economistas. Há o
grupo que dá ênfase a aspectos endógenos como oscilações na oferta de moeda
ou nos níveis das taxas de juros e à instabilidade nos gastos com
investimentos produtivos e no consumo de duráveis. Outra corrente dedica
maior atenção aos choques de oferta, que afetam preços de insumos,
tecnologia e produtividade.
Existem também formas diferentes de se monitorar os ciclos econômicos. As
mais conhecidas são: os ciclos de negócios, ciclos de crescimento e os
ciclos de taxas de crescimento.
A modalidade mais conhecida é o chamado ciclo de negócios (business cycle
em inglês), em que um ciclo é determinado por fases de expansão ou recessão
econômica. O modelo mais conhecido é o chamado de ciclo de negócios
(ou business cycle). Um dos conceitos clássicos de ciclos de negócios foi
criado por Burns e Mitchell (1946), pesquisadores do NBER:
"Ciclos de negócios são um tipo de flutuação encontrada na atividade
econômica agregada de nações que organizem seu trabalho principalmente em
empresas privadas: um ciclo consiste de expansão ocorrendo simultaneamente
em muitas atividades econômicas, seguidas de fases similares de recessões,
contrações e recuperações, as quais se consolidam em uma fase de expansão
do próximo ciclo. Essa sequência de mudanças é recorrente, mas não
periódica. Em termos de duração, os ciclos econômicos variam de mais de um
ano a dez ou doze anos (...)" (tradução livre)
Segundo Romer (1999), os ciclos de negócios de se tornaram mais longos
após a Segunda Guerra Mundial. Esta tendência associada à evolução
tecnológica e ao aumento da complexidade dos mercados levou a um gradual
aumento do interesse nas oscilações no ritmo da economia ao longo de
períodos de crescimento. Daí o interesse crescente nos ciclos de
crescimento, em que fases de aceleração se contrapõem a fases de
desaceleração.
As séries de referência para acompanhamento dos ciclos de crescimento são
normalmente obtidas por meio da aplicação de filtros visando à decomposição
estatística das séries representativas de nível de atividade em seus
componentes de tendência e ciclo.
Uma variante do ciclo de crescimento é o ciclo da taxa de crescimento
(growth rate cycle), expresso geralmente pela variação interanual de um
índice representativo do nível de atividade econômica. Em relação ao ciclo
de crescimento tradicional, esta modalidade apresenta a vantagem de
prescindir de filtros.
O Gráfico 1 mostra a diferença entre o acompanhamento das diferentes
óticas usando a mesma série
(PIB do Brasil no período indicado no gráfico).
Outras características dos ciclos
Um ciclo econômico se completa com a ocorrência das duas fases: ascendente
e descendente. No ciclo de negócios clássico, a duração das fases de
expansão costuma superar a das fases de recessão. Na economia brasileira,
por exemplo, entre 1980 e 2019 foram registrados 9 ciclos segundo a datação
do CODACE, com períodos de expansão durando, em média, 34 meses e períodos
de recessão durando 19 meses.
No ciclo de negócios, mais estudado e conhecido, a economia passa por
quatro estágios: expansão, pico, recessão e vale.
Estágios do ciclo
Expansão: na fase de expansão o crescimento do nível de atividade é
disseminado na produção e venda de diferentes setores e, do lado da demanda,
de variáveis como emprego e salário.
Pico: após o nível de atividade desacelerar, a fase de expansão atinge seu
pico, momento de transição para a fase de recessão. Como, na maioria das
vezes, o momento exato da mudança de fase não é determinado, assume-se que
o período de ocorrência do pico (ex: primeiro trimestre de 2014) seja o
último da fase de expansão.
Recessão: durante uma recessão a economia observa queda do nível de
atividade espalhada entre os setores, afetando fatores como a produção,
vendas, emprego e salário.
Vale: o nível mínimo alcançado durante a recessão é chamado de vale do
ciclo, correspondente ao último trimestre de recessão, que será seguido por
um novo ciclo iniciando por uma fase de expansão econômica.
Indicadores compostos de ciclo
Os indicadores antecedentes compostos do ciclo econômico são muito
populares em função de sua eficiência em antecipar os pontos de virada
(turning points) da atividade econômica, ao contrário da preocupação com a
aderência sistemática em relação à série de referência, como nos modelos
econométricos tradicionais. Segundo Lahiri e Moore (1991), "sinais
antecipados de recessão ou de recuperação da economia são de grande
interesse a empresários, gestores de política econômica, gente à procura de
emprego e investidores". Esta proposição seria válida tanto para os ciclos
de negócios quanto para os ciclos de crescimento.
O sucesso destes indicadores parece estar também relacionado à sua
capacidade de combinar variáveis de natureza variada, tornando-os versáteis
na identificação de diferentes tipos de choque ou das motivações para a
ocorrência de mudança de fase de ciclos.
Há no mundo sistemas de indicadores conhecidos tendo como referência ambas
as modalidades mais populares de expressão do ciclo. O sistema de
indicadores antecedentes da OCDE para os países tem como referência o ciclo
de crescimento. Já os indicadores antecedentes do The Conference Board para
os países usa como referência o ciclo de negócios clássico.
No Brasil, a FGV IBRE produz mensalmente o IACE (Indicador Antecedente
Composto da Economia) e o ICCE (Indicador Coincidente) em parceria com o
The Conference Board (TCB). Além destes, produz também o Indicador
Antecedente de Emprego (IAEmp) construído a partir da identificação de um
ciclo comum a diversas variáveis com perfil antecedente extraídas de suas
sondagens de tendência.
Sondagens de tendência
As sondagens de tendência são pesquisas mensais muito usadas por analistas
que monitoram os ciclos econômicos por diversos motivos, dentre os quais: i)
são divulgadas no mesmo mês da pesquisa de campo; ii) não são revisadas;
iii) possuem características de antecedência.
No sistema de indicadores de ciclo econômico da OCDE, por exemplo, há
variáveis de origens diversas, mas uma grande assiduidade dos indicadores
extraídos de sondagens. Campelo (2019) afirma que de 245 séries presentes
nos indicadores antecedentes daquela instituição em março de 2016, 91 (ou
37%) eram retiradas de sondagens, 63 eram indicadores financeiros e 91 eram
de outras origens.
No Brasil, a FGV IBRE mantém um sistema de sondagens mensais que reproduz
as melhores práticas recomendadas pela ONU, OCDE e Comissão Europeia, tanto
no formato de aplicação de questionários quanto na abrangência temática -
são produzidas sondagens para a Indústria, Serviços, Comércio, Construção e,
do lado da demanda, a do Consumidor. Além destas, a FGV IBRE possui
parceria com o Instituto Ifo, da Alemanha, para produção da Sondagem
Econômica da América Latina, feita com especialistas econômicos.